EXCLUSIVO!!!!
Retirado da página do Jornal do Commercio, 12 de abril de 1998
Lunga, fama graças ao mau humor
por CLÁUDIA PARENTE
Especial para JC
JUAZEIRO DO NORTE (CE) - Se você pensa que Padre Cícero e José Wilker são as únicas personalidades desta cidade, precisa conhecer o comerciante Joaquim dos Santos Rodrigues, o "seu" Lunga. Por suas tiradas sarcásticas, e a despeito de sua própria vontade, tranformou-se em personagem folclórico, consolidando fama de humorista. No seu caso, no entanto, é o mau humor que faz a graça.
Aos 68 anos, casado e pai de muitos filhos, "seu" Lunga passa a maior parte do tempo em sua loja de sucatas, aberta há mais de trinta anos. Foi lá que surgiram as primeiras histórias que perpetuaram a fama de mau humorado. A pergunta mais inofensiva pode receber de volta uma resposta inesperada. E inspirada também. O curioso é que "seu" Lunga não reage assim para ser engraçado. O motivo é justamente o oposto: não suporta o que considera perguntas imbecis. E dá exemplo. "As pessoas chegam aqui, pegam uma peça e perguntam se é para vender. Aí eu respondo: se não fosse não estaria aí".
Nem mesmo a reportagem escapou à lingua ferina do sucateiro. Questionado se preferia ser entrevistado em um horário específico, foi rápido "Eu não tô preferindo nada. A partir daí é fácil entender a origem da fama deste cidadão de Caririaçu, que até hoje ostenta o apelido carinhoso herdado da mãe. Lunga é o diminutivo de "calunga", que correspondente a boneca na linguagem popular. Difícil é encontrar, hoje, semelhanças entre uma inocente boneca e o homem de estatura mediana, fisionomia austera, que quase nunca sorri e pouco se diverte.
Apesar da fama de arredio, "seu" Lunga cadidatou-se a vereador nas eleições de 92. Não foi eleito. Questionado sobre o que pretendia fazer caso o resultado lhe fosse favorável, responde: "nada. É isso que todo vereador faz". A cadidatura, por sinal, propiciou algumas de suas histórias mais engraçadas. Em busca de eleitores, distribuía "santinhos" que, sem explicações, eram tomados de volta e rasgados. Justificativa: poupar as pessoas do trabalho de rasgar a propaganda assim que o candidato desse as costas. Por essas e tantas outras, "seu" Lunga já virou até letra de música - a banda de forró Balaio de Gato gravou uma música que conta suas peripécias - e personagem de literatura de cordel.
Uma das histórias mais impressionantes que marcam a sua aconteceu há cerca de 10 anos. Na época, a prefeitura de Juazeiro enviou ofício aos moradores da Rua da Conceição pedindo que retirassem os veículos das garagens porque, com a construção de uma praça, o acesso à rua seria fechado. "Seu" Lunga desconsiderou a solicitação. A praça foi construída e a velha caminhonete Willys, ano 51, ficou presa na garagem, onde deve pernanecer indefinitivamente.